O mundo plástico de Rico Sequeira tem uma característica que o particulariza relativamente a outros, seus contemporâneos. Pelo modo como na ordem do seu fazer, o desenho se opõe à pintura.
Não porque Rico Sequeira negue um ou outra, pelo contrário, ou porque não os utilize a um e a outro no curso e no movimento interno da sua obra, mas precisamente porque, utilizando-os incessantemente, o faz segundo um regime de oposição e mesmo de tensão profunda.
O desenho funciona assim, nessa obra, com uma dupla incisão. Por um lado a de uma libertação automática, ou melhor, automatista – como se fosse registo imediato de um impulso, libertação de uma energia, veemência expressiva ( mas nunca expressionista) – de uma matriz interior do próprio ser.
(…) Pelo contrário a pintura, que igualmente intervém, sem todavia contaminar ou invadir esse primeiro campo, chamemos-lhe assim, ópera de maneira quase oposta.
Como marca de prazer, de saturação, de sensibilidade direta à sua própria carnalidade ou densidade matérica, presença de uma espessura e de uma paixão a cor e textura que não se intromete, mas antes se guarda em respeitosa distância para com esse outro plano de invenção em que o desenho se joga no seu deslumbramento e na sua plenitude desejante.
(…) Disto tudo resulta uma espécie de esplendor. Uma dança que perturba e que nos deixa algo perplexos. Um fulgor que nos prende e nos suscita. Idêntico daquilo que sentimos quando no meio do caos se faz silêncio.