Daniela Pacheco e Sebastião Van Uden, fundadores da Bac3Gel, Bac3Gel
“A tecnologia Bac3Gel é a primeira a permitir desenvolver substratos 3D com gradientes”

Qual a missão da Bac3Gel e fatores distintivos?
A missão da Bac3Gel é tornar-se líder de mercado de substratos avançados para microbiologia. O corpo humano tem mais células microbianas do que células humanas, no entanto, com os métodos de laboratório atuais, é difícil entender o impacto que esses microrganismos têm no nosso corpo.
A tecnologia Bac3Gel é a primeira a permitir desenvolver substratos 3D com gradientes, reproduzindo assim as condições que os microrganismos experienciam nos tratos intestinal, pulmonar, gástrico e cervicovaginal.
Atualmente, 90% das doenças crónicas que afetam o corpo humano estão associadas à microbiota humana. Os nossos substratos podem não só estimular descobertas em investigação fundamental, mas também a entender como doenças como Alzheimer e Parkinson estão relacionadas à microbiota humana. Ao fazer essa conexão, possibilitamos que a indústria farmacêutica avance e teste terapias que se focam no que causa a doença e não nos sintomas causados por ela.
Porquê a opção pela Incubadora Taguspark para “plantar” a Bac3Gel?
O Sebastião conhecia bem o Taguspark dos seus tempos de licenciatura e mestrado, e já tinha conhecimento da existência da Incubadora. Procurámos pouco por outras opções, porque realmente a Incubadora do Taguspark era tudo aquilo que precisávamos e muito mais. Como procurávamos uma incubadora que tivesse instalações laboratoriais, essencial para a atividade da Bac3Gel, a escolha do Taguspark tornou-se óbvia. Tem um ecossistema muito interessante, com todo o tipo de startups tecnológicas diferentes com as quais estamos em constante interação, partilhando recursos. É uma rede muito interessante, num ambiente muito descontraído. Mas acima de tudo muito pé no chão, focado no essencial.
Em que medida a opção foi uma mais-valia no percurso da empresa, incluindo a presença em prémios internacionais?
Recentemente tivemos a felicidade de ganhar um EIC Accelerator, conhecido por muitos como a “Champions das Start-ups”, na verdade somos a sétima start-up em Portugal a ganhar um EIC Accelerator. Um fator essencial para obter esta bolsa de aceleração são as instalações presentes e futuras que temos para executar o projeto. As instalações fornecidas pela Incubadora do Taguspark foram consideradas indicadas quer para o processo de aceleração que estamos atualmente, quer pelo acesso futuras instalações dentro do Taguspark para a fase de scale-up. Esta possibilidade foi elogiada durante o processo de avaliação, uma vez que nos permite planear e concretizar as atividades atuais, mas permite um planeamento concreto a longo prazo.
Como é que a Bac3Gel olha para o ecossistema Taguspark e em que medida este contribui para a sua afirmação no mercado internacional?
A Bac3Gel é uma start-up de carácter instant global, o nosso mercado não tem fronteiras e os nossos produtos permitem a sua produção nas instalações da Incubadora do Taguspark com a possibilidade de serem enviados para qualquer lugar. O Taguspark consegue unir a proximidade a Lisboa, Cascais e Sintra à qualidade de vida, dinamismo e acessos que esta localização fornece.
O ecossistema da Incubadora com perfis tecnológicos diversificados, não só nos possibilita uma análise critica de diferentes pontos de vista, mas também de explorar sinergias.
Também muito importante tem sido a nossa colaboração com o Instituto Superior Técnico que se disponibilizou a receber alunos que façam a tese de doutoramento na Bac3Gel, que nos levou a receber uma bolsa Marie Curie recentemente dentro de um Consortium que une parceiros de vários países da Europa.
Como é que a Bac3Gel atrai o seu talento em/para Portugal?
A tecnologia Bac3Gel nasceu em Itália numa colaboração entre diferentes instituições e por essa razão temos uma rede de contactos ampla que entre outras razões abre o fluxo de pessoas altamente qualificadas para a Bac3Gel. As colaborações que temos estabelecido com outras entidades desde que criamos a empresa fortalecem ainda mais a nossa atividade e missão.
Através dos seus modelos, a BAC3GEL oferece às indústrias farmacêutica e alimentar a possibilidade de desenvolverem novas terapias num menor período de tempo e a um custo reduzido. Como é a relação com as indústrias farmacêutica e alimentar portuguesas? E com o universo médico?
Nós fornecemos diretamente à indústria farmacêutica e biotecnológica, que por sua vez utiliza os nossos produtos para os ajudar no desenvolvimento de novos fármacos que irão ser comercializados tanto para a saúde como para o bem-estar. De uma forma simples de perceber: atualmente é possível cultivar no laboratório 20% das espécies conhecidas de micro-organismos, das quais resultam 50% dos fármacos no mercado. Com os produtos Bac3Gel é possível crescer aproximadamente 90% do microbiota intestinal, abrindo todo um novo universo de potencias tratamentos inovadores e verdadeiramente disruptivos para a medicina. Estes poderão não só resolver a crise da falta de antibióticos como fomentar o desenvolvimento de uma nova geração de tratamentos amiga do microbioma humano, conhecidos como live biotherapeutics.
Em termos de projetos atuais, podem destacar ou revelar algum projeto que esteja na calha ou o segredo é mesmo a alma do negócio?
a.Pode aprofundar um pouco esse(s)projeto(s)?
Acreditamos tanto quanto possível numa troca aberta e transparente de informação, principalmente porque a nossa génese é a investigação científica onde a colaboração é o segredo do sucesso.
Neste projeto europeu, que iremos iniciar brevemente, pretendemos validar os nossos produtos com microbiotas de uma série de dadores e perceber até que ponto conseguimos recriar em laboratório essas comunidades microbianas características de cada um destes dadores abrindo a possibilidade, também, de explorar potenciais terapias personalizadas. É um grande projeto que irá expandir a nossa equipa 5 a 6 vezes o tamanho atual com talento de topo em tópicos como sequênciação genética, microbiologia e bioengenharia.
Dentro do vosso setor de atividade, podem sublinhar alguma tendência em curso e perante a qual estão a responder?
Na Europa estamos a entrar num tema que já se tornou moda a nível científico nos Estados Unidos, o microbioma e a modelação do mesmo. Cada vez mais se percebe que o microbioma de cada um influencia direta ou indiretamente praticamente tudo o que acontece e nos define a nível sistémico. O microbioma está na base de predisposições tão variadas como depressão, capacidade atlética de topo, obesidade, velocidade de envelhecimento ou tendência para problemas vascular. Os micro-organismos que crescem em nós têm a capacidade de hackear o nosso sistema hormonal e enviar sinais pelo sangue de forma a provocar por exemplo desejos por comidas mais saudáveis, ou até mesmo provocar respostas inflamatórias que ajudam a tratar patologias crónicas ou por outro lado sejam a razão da cronicidade dessas doenças. Deste ramo nasceram os live biotherapeutics, que se prevê serem um futuro ramo de tratamentos médicos. Se virmos os antibióticos como uma bomba atómica que mata tanto micro-organismos benéficos como causadores de infeção, os live biotherapeutics agem de uma forma muito mais precisa neutralizando os micro-organismos patógenos.
Portugal tem condições para atrair e reter talento no vosso setor de atividade?
Tem, mas está longe de ser o país mais atraente para o fazer. Muitos dos fatores que caracterizam Portugal têm tudo para atrair esse talento, no entanto há pontos concretos que bloqueiam a retenção de talento. A nível individual é a possibilidade de pagar salários líquidos equiparáveis aos do resto da europa neste sector. Por outro lado, não existe um ecossistema tão dinâmico nesta indústria em Portugal como existe por exemplo em países como a Suíça, Países Baixos ou Alemanha. O talento, por definição, procura desafios de topo e cada vez mais gosta de estar num ecossistema que lhe permite mudar de empresa ou posto de trabalho se e quando o desejar. A descapitalização do sector empresarial português parece não permitir “adubar” o nosso próprio ecossistema biotecnológico que apesar se ser de alto ganho requer muito investimento para se equiparar aos outros ecossistemas de topo. Só se estabelece cá quem realmente gosta de Portugal, como é o nosso caso.
Numa frase, o que é ser Bac3Gel?
A visão máxima da Bac3Gel é torna-se o próximo unicórnio farmacêutico em Portugal, ajudar a fortalecer o campo da biotecnologia e fazer de Portugal o centro da revolução do microbioma, criando um impacto sem precedentes na saúde e bem-estar humano. É o futuro da medicina e queremos estar no centro dele.